Em meio à transição energética global e à crescente demanda por veículos elétricos, o Brasil tem dado passos decisivos rumo à independência tecnológica no setor de baterias. Tradicionalmente dependente da importação de células de íons de lítio — componentes essenciais para baterias automotivas — o país agora investe em pesquisa, inovação e desenvolvimento de soluções próprias, com potencial para transformar o mercado de mobilidade elétrica e fortalecer a indústria nacional.
Unicamp e WEG: parcerias que movem a inovação
Um dos centros de excelência que lidera essa transformação é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Através do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro), a universidade está desenvolvendo, pela primeira vez no Brasil, tecnologia própria para fabricação de células de baterias de lítio e sódio. Trata-se de um marco inédito, já que atualmente não há produção nacional dessas células em escala comercial.
O projeto envolve uma parceria estratégica com a empresa WEG, referência em engenharia elétrica e automação, que já atua no fornecimento de motores para veículos híbridos e elétricos. Juntos, os pesquisadores trabalham na produção de baterias de sódio com capacidade de 1 ampère-hora (Ah) e módulos com até 1,2 quilowatt-hora (kWh), inicialmente voltados para veículos híbridos leves e sistemas estacionários de armazenamento de energia.
A escolha do sódio como matéria-prima alternativa ao lítio é estratégica: o sódio é abundante, mais barato e menos dependente de cadeias globais de suprimento que hoje estão concentradas na Ásia. Além disso, sua extração e descarte têm impacto ambiental significativamente menor.
Recursos minerais: o Brasil como potência bruta
Um dos maiores trunfos do Brasil nesse caminho de independência é sua riqueza mineral. O país é um dos principais detentores mundiais de reservas estratégicas como lítio, nióbio, níquel, cobalto e grafite — todos utilizados na composição de baterias modernas. A concentração dessas matérias-primas em território nacional abre espaço para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva completa, desde a mineração até a montagem final de baterias automotivas.
O estado de Minas Gerais, por exemplo, é considerado o “novo triângulo do lítio”, com investimentos nacionais e internacionais para a exploração responsável do mineral. As jazidas estão sendo cada vez mais visadas por empresas do setor de energia limpa e mobilidade.
Expectativas e cronograma
Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a expectativa é que a produção de baterias no Brasil entre em operação a partir de 2026, com projetos-piloto em andamento nas universidades e centros de pesquisa. Já a produção em escala industrial é projetada para 2028, quando a infraestrutura e os processos estarão devidamente validados e regulamentados.
Esse cronograma, se cumprido, poderá posicionar o Brasil como um player relevante no mercado de veículos elétricos na América Latina — não apenas como consumidor, mas como produtor de tecnologia.
Importância estratégica e impacto econômico
A nacionalização da produção de baterias tem implicações profundas na economia brasileira. Além de reduzir os custos de importação, abrirá novas oportunidades de empregos qualificados nas áreas de química, engenharia de materiais e eletromobilidade. Também será um fator determinante para atrair montadoras interessadas em ampliar sua presença na região.
A indústria automobilística já está se movimentando. Fabricantes como Volkswagen, BYD e GWM têm demonstrado interesse no mercado nacional, e a existência de fornecedores locais de baterias poderá acelerar ainda mais a instalação de fábricas e centros de pesquisa.
Desafios e perspectivas
Ainda que promissoras, as iniciativas enfrentam desafios relevantes. O desenvolvimento de células eficientes e duráveis requer investimentos contínuos em pesquisa, infraestrutura laboratorial e transferência de conhecimento. Além disso, o país precisa avançar na regulamentação técnica e na formação de profissionais especializados.
O governo federal, em conjunto com agências como BNDES e Finep, tem sinalizado apoio a projetos de inovação e produção local de baterias, com linhas de crédito específicas e incentivos fiscais. Esse ecossistema de colaboração entre setor público, universidades e iniciativa privada é essencial para consolidar o avanço tecnológico do país.
A produção nacional de baterias para carros elétricos não é mais uma possibilidade distante — é um objetivo concreto em desenvolvimento. Com previsão de maturação tecnológica e industrial até 2028, o Brasil se posiciona para dar um salto estratégico no setor da mobilidade elétrica, reduzindo dependências externas e fomentando uma nova cadeia produtiva verde e sustentável.
O que antes parecia utopia hoje caminha com firmeza: baterias nacionais, carros mais acessíveis, empregos de qualidade e um futuro energético mais limpo. O Brasil tem o potencial, os recursos e, agora, o conhecimento científico para se destacar globalmente nessa nova era automotiva.
Fontes: Unicamp, WEG, Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Revista Pesquisa FAPESP, Portal Solar.